22/04/12
DO FALAR POESIA - 144
[O que defendo]
O que defendo é que o primeiro esforço de um poeta deverá ser no sentido de alcançar clareza para si próprio, de se assegurar de que o poema é o resultado certo do processo que se realizou. A mais falhada forma de obscuridade é a do poeta que não conseguiu expressar-se perante ele próprio; a mais falsa é a que se encontra quando o poeta tenta convencer-se de que tem alguma coisa para dizer, e não tem.
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26/03/12
DO FALAR POESIA - 143
«A poesia não é um juízo nem uma interpretação da existência humana», disse Octavio Paz, e nesse sentido não pode aspirar a ser veículo de nenhuma moral, de nenhuma consciência de classe. A sua amoralidade funda-se na realidade ser utilizada como vida sentimental interior, material de trabalho. A miséria social dos homens pode ser reflectida nela e suscitar a crença de que por ela é trans-
formada. Mas os poemas não lutam, «lutam os homens que os lêem». Opor a um mundo corrompido pela injustiça «a poesia, o amor e a liberdade» parecerá a muitos uma ingenuidade. Não pensavam assim nem Breton nem Éluard, para quem a experiência amorosa é a experiência revolucionária por excelência. A poesia proporciona a possibilidade de «iluminar» a realidade.
Eduardo Bustos
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17/02/12
DO FALAR POESIA - 142
"Che cos'è la poesia?"
"Fábula que poderias contar como o dom do poema, é uma história emblemática: alguém te escreve, a ti, de ti, sobre ti. Não, uma marca dirigida, confiada, é acompanhada de uma injunção, na verdade institui-se nessa ordem mesma que, por sua vez, te constitui, estabelecendo a tua origem ou dando-te lugar: destrói-me, ou melhor, torna o meu suporte invisível do exterior, no mundo (eis que surge já o traço de todas as dissociações, a história das transcendências), faz com que, em qualquer caso, a proveniência da marca permaneça de agora em diante inencontrável ou irreconhecível."
Jacques Derrida
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19/01/12
31/12/11
DO FALAR POESIA - 140
DISCURSO VAZIO
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero
há calma e frescura na superfície intata
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero
há calma e frescura na superfície intata
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Carlos Drummond de Andrade
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18/12/11
DO FALAR POESIA - 139
“Não é ofício do poeta narrar o que aconteceu; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verosimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa (pois que bem poderiam ser postos em versos as obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser história, se fossem em verso o que eram em prosa) - diferem, sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder. Por isso a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e esta o particular. Por “referir-se ao universal” entendo eu atribuir a um indivíduo de determinada natureza pensamentos e ações que, por liame de necessidade e verossimilhança, convêm a tal natureza; e ao universal, assim entendido, visa a poesia, ainda que dê nomes aos seus personagens; particular, pelo contrário, é o que fez Alcebíades ou o que lhe aconteceu".
Aristóteles
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12/12/11
DO FALAR POESIA - 138
"Creo que la poesía es verdad, es decir, creo que escribir poesía es tratar de llamar a las cosas por su nombre. La poesía no es, desde luego, una ciencia exacta, pero debe aspirar a ser exacta. A un verso se le puede perdonar que le falte algo, pero no que le sobre: ni una sílaba, ni un silencio. Del mismo modo que una mosca echa a perder una sopa, una mala palabra, una palabra mal puesta, puede echar a perder un poema. Yo abogo por una poesía libre de moscas y de adjetivos superfluos y melifluos. Creo que la poesía y la literatura en general son, en definitiva, y en el mejor sentido de la expresión, cuestión de higiene."
Camilo de Ory
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01/12/11
06/11/11
DO FALAR POESIA - 136
fugitivo passar pela retina,
no virar de uma esquina ou de um silêncio,
a tua ausência é este ensombramento,
porém que a despedida seja breve
e que voltes com um relâmpago, um
desvendar-se do mundo entrecortando
dobras desamparadas do real.
e eu pergunto: que vozes do crepúsculo
se apagavam então? talvez o vento
agitasse tristezas na folhagem,
e esse fosse o frémito dos seus
melancólicos sinais rumorejando,
ou talvez fosse a cama de hospital
e o branco desolado das paredes
e a mudez de estranhos aparelhos,
ou talvez fosse o próprio esquecimento
de que irias voltar, ou resvalar
numa lenta passagem de tercetos.
Vasco da Graça Moura
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03/11/11
03/10/11
PÉROLAS - 233
Vós o sabeis, amigos, e eu o sei.
Também os versos são quais bolas de sabão:
umas sobem, outras não.
Umberto Saba
Também os versos são quais bolas de sabão:
umas sobem, outras não.
Umberto Saba
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30/09/11
DO FALAR POESIA - 135
Quando um poeta lhe parecer obscuro, procure bem, e não procure longe. Não há de obscuro aqui senão o maravilhoso encontro do corpo e da ideia, que opera a ressurreição da linguagem.
Alain . Propos de littérature
Paris: Gonthier, 1964.
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19/09/11
DO FALAR POESIA - 134
O poema é solitário.É solitário e vai a caminho.
Quem o escreve torna-se parte integrante dele.
Paul Celan
Paul Celan
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04/09/11
DO FALAR POESIA - 133
Ce sont de drôles de types qui vivent de leur plume /Ou qui ne vivent pas c'est selon la saison/Ce sont de drôles de types qui traversent la brume/ Avec des pas d'oiseaux sous l'aile des chansons//Leur âme est en carafe sous les ponts de la Seine / Les sous dans les bouquins qu'ils n'ont jamais vendus / Leur femme est quelque part au bout d'une rengaine / Qui nous parle d'amour et de fruit défendu//Ils mettent des couleurs sur le gris des pavés / Quand ils marchent dessus ils se croient sur la me r/ Ils mettent des rubans autour de l'alphabet / Et sortent dans la rue leurs mots pour prendre l'air//Ils ont des chiens parfois compagnons de misère / Et qui lèchent leurs mains de plume et d'amitié / Avec dans le museau la fidèle lumière /Qui les conduit vers les pays d'absurdité//Ce sont des drôles de types qui regardent les fleurs / Et qui voient dans leurs plis des sourires de femme/ Ce sont de drôles de types qui chantent le malheur / Sur les pianos du cœur et les violons de l'âme // Leurs bras tout déplumés se souviennent des ailes/ Que la littérature accrochera plus tard/ A leur spectre gelé au-dessus des poubelles / Où remourront leurs vers comme un effet de l'Art//Ils marchent dans l'azur la tête dans les villes / Et savent s'arrêter pour bénir les chevaux / Ils marchent dans l'horreur la tête dans des îles / Où n'abordent jamais les âmes des bourreaux//Ils ont des paradis que l'on dit d'artifice / Et l'on met en prison leurs quatrains de dix sous / Comme si l'on mettait aux fers un édifice / Sous prétexte que les bourgeois sont dans l'égout ///
Canção de Léo Ferré
- que pode ouvir, pelo próprio, em http://www.youtube.com/watch?v=SCFJgYVSN9o
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02/09/11
DO FALAR POESIA - 132
Uma grande tentação se oferece ao homem, a de exercer a sua capacidade mais superlativa e radical: criar. Eis porque não se trata de ver o poema. Paul Éluard dizia justamente que o poema consiste em dar a ver, em mostrar o mundo, em mostrar o que a quotidianidade nos dissimula e nos esconde a inanidade da vida. Dar a ver a realidade substancial do homem, o que a nossa precariedade, a nossa incapacidade, os constrangimentos da existência, nos furtam e o que nos escapa por sermos inaptos para responder directamente à exigência absoluta. Direi mais: não basta dar a ver. Trata-se de dar a criar, de um incitamento a se re-criar.
António Cabrita, cit em http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/ |
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19/07/11
DO FALAR POESIA - 131
Aquisição fabulosa
(para João Cabral de Melo Neto)
Lapidar o poema.
Lançá-lo lindo à língua,
sem o peso do vácuo.
Palavra por palavra,
Sem prematura pressa.
Palavra por palavra,
Sem proezas supérfluas.
Palavra por palavra,
Sem pretensões precárias.
Para depois de pronto,
devolvê-lo nu aos deuses,
sem o peso do véu.
Adriano Nunes
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25/06/11
DO FALAR POESIA - 130
[poesia é zen]
Sim, poesia é meditação. Poesia é zen! Zen é arte ! É uma forma de ser e estar no mundo, completo aí com outros verbos de ligação: ficar, permanecer. E o verbo de ligação é o tal "religare". Nos ligarmos a um fator transcendente-imanente, que não está lá longe, mas no aqui e no agora. Fazer poesia é meditação. Ler poesia é meditação. É preciso vivenciar tais experiências poéticas. Há diversos estudos, no exterior, enfocando a natureza poética do zen.
Antônio Carlos Rocha
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05/06/11
DO FALAR POESIA - 129
Bom e expressivo
Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.
Vai-me a essas rimas que
tão bem desfecham e que
são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,
tal como o outro pedia
se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência
que grite: — Não é poesia!,
diz-lhe que não, que não é,
que é topada, lixa três,
serração, vidro moído,
papel que se rasga ou pe-
dra que rola na pedra...
Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,
a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo...
Alexandre O'Neill
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29/05/11
15/04/11
DO FALAR POESIA -127
a poesia é o eco da melodia do universo no coração dos humanos
Rabindranath Tagore
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